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Jaguatiricas do Refúgio Biológico de Itaipu passam por procedimento inédito

Editoria: Vininha F. Carvalho 23/11/2011

O Hospital Veterinário do Refúgio Biológico Bela Vista (RBV) de Itaipu se transformou, na manhã de terça-feira (22/11), em uma clínica de fertilização.

Três jaguatiricas – espécie ameaçada de extinção – foram
submetidas a uma técnica inédita no Brasil: a inseminação artificial por meio de sêmen congelado(criopreservação de gametas). O material genético, que soma quase 60 amostras, foi coletado dos machos do próprio RBV entre fevereiro e julho deste ano.

O procedimento ocorreu entre 8h30 e 13h e mobilizou quase 20 pessoas, entre veterinários e biólogos do RBV, pesquisadores de várias universidades e até um engenheiro biomédico.

A mobilização é proporcional à importância da iniciativa. Caso seja bem-sucedida, a inseminação das jaguatiricas pode ser transformada em um protocolo para o congelamento de sêmen desta espécie, Leopardus pardalis, e de outros felídeos de pequeno porte.

Na prática, a ação pode salvar animais da extinção e também possibilitar o intercâmbio genético de felídeos separados pelas barreiras geográficas.

Outra inseminação em mais três fêmeas foi feita no dia 25 de outubro. Ambos os procedimentos – o dessa terça e o primeiro – fazem parte de uma pesquisa científica desenvolvida por meio de uma parceria entre a Itaipu, a PUC-PR (Campus Toledo), a UFPR e a Faculdade Assis Gurgacz.

“A criopreservação pode permitir a reprodução de animais daqui com outros de São Paulo e da Argentina, por exemplo. Isso é extremamente positivo”, disse o professor e diretor do curso de medicina veterinária de PUC de Toledo, Renato Herdina Erdmann, pesquisador da UFPR.

“Em todo o mundo, há apenas quatro relatos de jaguatiricas nascidas por este tipo de inseminação”.

A pesquisa é parte da tese de doutorado de Erdmann, desenvolvida com o apoio dos técnicos do RBV. “Este tipo de investigação não é feita sozinha. O trabalho é feito com apoio do pessoal de Itaipu e de mais outros quatro grupos em várias partes do Brasil”, concluiu o professor.

"Em termos práticos, esta iniciativa nos ajuda a aperfeiçoar a
conservação de sêmen do nosso banco genético, para que as amostras ainda tenham condições de uso daqui a muitos anos", avaliou Zalmir Cubas, veterinário do RBV, da Divisão de Áreas Protegidas (MARP.CD).

"E para nós, da Divisão de Áreas Protegidas, este trabalho confirma nossa convicção de que o RBV é também um espaço de pesquisa científica", completou.

Preparação:

Antes de receber o sêmen, as fêmeas foram submetidas a um tratamento hormonal para estimular a ovulação, procedimento que também integra a pesquisa.

Durante a intervenção, a jaguatirica permanece sedada, enquanto o sêmen é injetado no útero por meio de videolaparoscopia, técnica cirúrgica feita com auxílio de uma microcâmera, inserida no corpo do animal. O material é depositado ‘próximo’ aos óvulos.

O resultado será conhecido em 45 dias, quando será feito um exame de ultrassonografia para constatar se houve fecundação dos óvulos. Até lá, as jaguatiricas não serão examinadas, para evitar o estresse dos animais e a perda dos possíveis embriões.

Caso seja confirmada a gestação, os filhotes devem nascer em cerca de 70 dias. O primeiro ultrassom, das fêmeas
fertilizadas em outubro, será feito em dezembro. As últimas três jaguatiricas serão avaliadas no início de 2012.

A escolha das possíveis mamães foi feita com base na idade
reprodutiva das jaguatiricas, férteis entre dois e dez anos de idade. No RBV, há 11 fêmeas da espécie, seis delas em condições de procriação. O plantel do Refúgio possui 15 jaguatiricas, quatro machos e 11 fêmeas.

Os últimos filhotes de jaguatirica nascidos no RBV pelo método natural estão com dois anos de idade. Na natureza, as jaguatiricas podem ter até quatro filhotes. Por enquanto, não há como prever a quantidade de animais que podem nascer deste tipo de inseminação. Só resta torcer para que a ciência dê uma forcinha para manter a população desta e de outras
espécies.


Perfil:

A jaguatirica, felino de pequeno porte, pesa entre 11 e 15 quilos e mede de 65 cm a um metro, fora a cauda. Em cativeiro, chega a viver 20 anos.

A longevidade é menor em ambiente selvagem. De hábitos
noturnos, ela se alimenta de pequenos roedores e aves. A espécie habita, principalmente, florestas tropicais e subtropicais e pode ser encontrada nos Estados Unidos e do México até o norte da Argentina. No Brasil, pode ocorrer em todos os Estados, à exceção do Rio Grande do Sul.

Fonte: Itaipu