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Museu do Mar é rico em conchas e tubarões

Editoria: Vininha F. Carvalho 10/02/2009

Desvendar as riquezas dos oceanos é uma opção que o turista tem em Santos, por meio de cursos no Museu do Mar. O de mergulho acontece nos meses de janeiro, fevereiro e março; em fevereiro, os de biologia marinha e cetáceos; em março, o de taxidermia de crustáceos e peixes, além do curso de conquiliologia ou estudo das conchas.

Fundado em 1984, o Museu do Mar é a concretização do sonho de um menino que gostava de brincar na praia, catando conchas para colecionar. Seu maior desejo era conseguir um dente de tubarão, daqueles que se penduram com um fio no pescoço, para dar sorte. O amuleto, prometido por um velho pescador, nunca chegou às mãos do garoto.

O espaço é pequeno para a riqueza do acervo. Apenas 250 m2 para abrigar uma das maiores exposições públicas de Biologia Marinha do País, em que o forte são os tubarões. Das 400 espécies existentes, 100 podem ser encontradas no Brasil. E dessas 100, exatamente 25 estão representadas no Museu do Mar.

Com cerca de 6 m, o filhote de tubarão-baleia, top de linha da espécie no planeta, capaz de atingir 18 m, pesava 1.140 Kg e foi encontrado na altura de São Sebastião. É o único em exibição na América do Sul. Para admirar os outros dois, só mesmo indo a Nova York ou à cidade do México.

Próximo ao maior, pode ser visto o menor do mundo. Do tamanho de uma sardinha, o tubarão-anão mede 24 cm. É tão intrigante quanto o embrião de tubarão-azul, um xipófago (com duas cabeças), caso único de que se tem notícia.

Do raro mangona de fundo só há em exposição o do Museu do Mar, com 4 m, outro no Museu de Pesca, também situado em Santos, e um terceiro em Portugal, com 1,5 m, na verdade o primeiro a ser catalogado, em 1955.

Apenas 20 espécies fazem jus à fama de predadores. Mesmo assim, diversos biólogos defendem a tese de que, nesses fatos esporádicos, a intenção do peixe seja de se defender. Ao jargão “quando o bicho come a gente é tubarão, quando a gente come o bicho é cação” deve-se acrescentar que o segundo caso é bem mais corriqueiro.

O Museu do Mar apresenta várias espécies perigosas. Como o jaguara ou tintureira, que cresce até 5,5 m e em outros países recebe o nome de tubarão-tigre. A fêmea dá à luz até 55 filhotes, mas parte deles em geral é devorada pelos pais e parentes, logo ao nascer.

Aquele que volta e meia ataca surfistas na Praia de Boa Viagem, no Recife, é conhecido internacionalmente como tubarão-touro e no Entreposto de Pesca de Santos como bahia ou cabeça-chata. Outro que não é de brincadeira, o anequim de fundo, cujo habitat são águas afastadas da costa, destaca-se como um dos mais velozes, nadando até 60 Km por hora.

O touro e o tintureira vêm registrando os mais numerosos casos de agressão em todos os mares. O tintureira e o anequim distingüem-se pelo canibalismo intrauterino, desenvolvimento batizado de ovofagia, em que os embriões mais fortes viram verdadeiros canibais, alimentando-se quer dos ovos não fecundados, quer de outros embriões mais fracos ou menos desenvolvidos.

O tubarão-azul ou mole-mole é sempre escalado para estrelar filmes de cinema, às vezes mordendo o braço de mergulhadores que usam roupas de tela de aço para se proteger. Alongado pelas nadadeiras, é capturado pelas empresas de pesca no final da plataforma continental, que avança cerca de 200 m no oceano até o talude continental, abismo que os pescadores denominam barranco.

Característico pelas projeções que possui em ambos os lados da cabeça, onde ficam os olhos, o turbarão-martelo é esquisito. No Brasil também recebe o nome de cambeva.

Vale ressaltar que o tubarão é um animal do qual tudo se aproveita, embora aqui esse aspecto econômico não seja bem explorado. Na Europa, emprega-se a pele para confecção de sapatos, cujo par ultrapassa 650 euros. A ingestão de óleo do fígado, rico em vitaminas A e D, diminui a concentração sangüínea de colesterol total (LDL) e aumenta o colesterol benéfico (HDL).

Bastante comercializadas são as nadadeiras, erroneamente chamadas de barbatanas de tubarão. Nada a ver, pois quem tem barbatana é baleia. Logo que o peixe é fisgado, os pescadores retiram as nadadeiras e colocam-nas para secar. Antigamente o lucro obtido com a venda para restaurantes de gastronomia chinesa, visando ao preparo da famosa sopa, ia direto para o bolso dos pescadores. Agora, o dono da embarcação leva uma porcentagem, já que um lote de 30 a 40 Kg custa de 10 a 15 mil reais.

Segundo Luiz Alonso, proprietário do Museu do Mar, “ há empresários que pegam jatinhos para ir comprar nadadeiras no Norte”. Sempre vestindo a camisa da preservação ambiental, o biólogo denuncia: “De forma criminosa, barcos estrangeiros estão entrando em nosso mar territorial, cortando as nadadeiras do tubarão e jogando o peixe fora”.

Haja concha !

As conchas sempre fascinaram a humanidade, desde os povos antigos da Ásia, África e até da América. Supõe-se que a presença dessas peças junto a antigas múmias descobertas nos Andes do Sul e América Central, fossem o veículo para uma boa passagem para a “nova vida”.

O punhadinho inicial, arrebanhado colecionado pelo menino, aumentou em número e tamanho. Atualmente são 12 mil peças acondicionadas em gavetas, a partir de 1 mm, além das duas gigantes. Não é a toa que elas parecem o símbolo da Shell, que em inglês quer dizer “concha”. Antes de ser petrolífera, em seus primórdios diz-se que a empresa americana comercializava conchas.

As duas maiores do Museu do Mar pesam 119 Kg e 148 Kg. Para se ter uma idéia da dimensão do molusco que elas abrigavam, ao lado dessa última o proprietário conserva uma foto do filho dentro da peça, feito berço, retratado aos dois meses de idade, quando pesava 4 Kg.

“Se a concha é bonita, o animal é mais bonito ainda”, informa o biólogo. Mas qualquer vacilo é temerário. Numa reação de auto-defesa, se sentir um braço ou uma perna, ela se fecha para se proteger, tornando-se perigosa. Essas conchas enormes são oriundas do Índico e Pacífico, onde há ilhas que atualmente proíbem a evasão dessas espécies.

Uma formação de pérola do tamanho de uma bola de golfe, sem nenhum valor comercial, pode ser observada na concha-gigante. De primeiro time, uma pérola negra e uma pérola de cor natural descansam na vitrina, incrustadas na madrepérola das conchas.

Ainda na vitrina das conchas destaca-se a famosa náutilus. O nome deriva do submarino de Júlio Verne. É um animal como um polvinho, que sobe e desce, enchendo e esvaziando as câmaras de ar ou água, levantando a concha como se fosse um submarino.

As coníferas apresentam a forma de um copinho de sorvete. Algumas, como a Conus marmoreus, a Conus textile e a Conus geographus, são mais venenosas do que a cobra coral. Note-se que, nas conchas de gastrópodos (caramujos e caracóis), a aspiral é sempre horária. A Busycum contrarium é anti-horária. O museu conta com três raridades, guardadas a sete chaves: conchas do tipo destro, excepcionalmente sinistras.

O grupo Cypraeidae, com perto de 180 a 190 espécies espalhadas pelos mares, é dos mais surpreendentes. No Brasil existem umas quatro espécies, uma delas bastante rara, a Cypraea surinamensis, natural do Ceará, normalmente encontrada no estômago de um peixe chamado pacamon. Há cerca de 50 peças desse grupo no museu. É divertido identificá-las.

Como o nome latino indica, a Cypraea aurantium é dourada. No Pacífico Central, até há pouco tempo, só pessoas bem ricas a detinham, como objeto de decoração. Os chefes de algumas tribos do Pacífico ainda a ostentam presa no pescoço, como símbolo de poder e status.

Utilizada como moeda, a Cypraea moneta já foi coletada em navios negreiros afundados na Baía de Todos os Santos. Em nações da África e da Ásia, 20 mil conchinhas compravam uma esposa, que custava 60 mil se a noiva fosse especial, de sangue real.

A Cypraea mapa assemelha-se ao contorno de um mapa; a Cypraea caputserpentis lembra uma cabeça de serpente; a Cypraea caputidragonis mostra a cabeça de um dragão; a Cyprae arabica remete a desenhos árabes; a Ovula ovum parece um ovo de porcelana branca; a Cypraea onix é semelhante à pedra negra usada contra mau-olhado; a Cypraea tigris e a Cypraea vitelus trazem à memória, respectivamente, um tigre e um vitelo.

As Strombidae constituem uma família da qual a maior, em todo o mundo, é a Strombus goliath. Endêmica da costa brasileira, já que só vive nessa região, tem como principal predador o polvo.

A Lambis scorpius apresenta forma de escorpião, enquanto o nome da Epitonium scalari vem da palavra holandesa que significa escada em caracol. Conta-se que, quando foi achada nas Filipinas, no século XVIII, era tão cara que os chineses fizeram falsificações com massa de arroz e venderam para colecionadores da Europa. A propósito, Luiz Alonso esclarece que todas as conchas possuem determinado valor, para efeito de troca entre colecionadores. “Desde a casquinha do marisco, que vale tipo 000000000 dólar, até as mais caras, que alcançam U$ 2.000,00”

Ele assegura que não há degradação do meio-ambiente. As peças são coletadas do fundo do mar pelas redes de arrasto dos pescadores. E garante que nenhum animal do museu foi “caçado”.

Sómente são aproveitados os que são encontrados mortos. Tanto que a única espécie de tartaruga existente no País que ainda falta no acervo já foi encomendada para o Ibama. É a oliva, natural de Sergipe.

Das cinco espécies que habitam os mares brasileiros, estão expostas a tartaruga de pente, juntamente com aros de óculos, pentes, alianças, anéis e marcadores de livro, confeccionados com seu casco, mais duro que o das outras espécies; a verde, que se alimenta de algas; a cabeçuda, fácil de reconhecer pelo tamanho da cabeça; e um filhote da tartaruga de couro ou gigante, a maior do planeta, que chega a medir 2,5m e pesar 350 Kg.


Corais, bolachas, estrelas:

Tão lindos como as conchas e confundidos com plantas, os corais são Cnidários (do grego knide, irritante), caracterizados por animais que têm células urticantes, como a anêmona-do-mar, a água-viva e a caravela-portuguesa, que no verão de 2008 andou incomodando os banhistas do litoral paulista. Nas cores branca, lilás, vermelha, azul, preta e ainda coral, como o próprio nome, são useiros e vezeiros em enfeitar a profundeza das águas e o museu.

O que se vê, na verdade, é o esqueleto. O animal propriamente dito possui aspecto gelatinoso e desenvolve-se nos pólipos, em geral resultando em colônias. Mas é possível notar que o coral cogumelo conta com um único pólipo. O nome deve-se ao seu formato, como acontece com o coral chinelo, o coral cérebro, o coral negro, parecido com um arbusto escuro e de significado comercial igual ao vermelho, com que se fazem brincos, anéis, colares, pulseiras.

Os corais têm importância ecológica porque formam recifes, onde os peixes se refugiam de seus predadores, e que servem de proteção das cidades, equivalendo a barreiras contra o embate das ondas.

Sob os vidros do museu também são exibidas as bolachas-do- mar, nos Estados Unidos rotuladas como dólares-do-mar, e as estrelas-do-mar. Estas normalmente dispõem de cinco pontas, mas do acervo constam exemplares com quatro, cinco, seis e até sete pontas, tão incomum quanto a de ponta de braço bifurcado.

Os crustáceos são artrópodes, grupo ao qual pertencem os insetos e aracnídeos - todos com patas articuladas - como siris, caranguejos de mangue, guaiamus, camarões, lagostas. Também presente, a centolha do Chile impressiona pelo grande tamanho.

Interessante é o caranguejo-ermitão. Por não possuir a carapaça dura, ele esconde-se dentro de conchas vazias de moluscos, que afastam os predadores com o líquido urticante de seus tentáculos. Em compensação, elas não precisam locomover-se e, como o ermitão captura anêmonas, recebem, de quebra, os restos alimentares do caranguejo.

Serviço:

Endereço: Rua República do Equador, 81 Telefone: 13*3261-4805 -Santos - SP

Fonte: Amélia Fernandez Gonzalez