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Arribaçã anilhada é encontrada 24 anos depois

Editoria: Vininha F. Carvalho 17/09/2008

Uma arribaçã ou avoante, anilhada em 1984 no Rio Grande do Norte, foi localizada este ano, ou seja, 24 anos depois, na Paraíba. A informação, que acaba de chegar ao Centro Nacional de Pesquisas para Conservação das Aves Silvestres (Cemave), do Instituto Chico Mendes, desfaz a idéia de que a espécie teria um ciclo de vida em torno de 15 anos.

O anilhamento é um sistema de marcação com anéis metálicos em que cada espécie recebe um anel com uma letra-código e uma seqüência numérica. A anilha, como é chamado o anel, funciona como uma carteira de identidade em que os códigos nunca se repetem. Um dos dados importantes proporcionados pelo anilhamento é se conhecer a longevidade das espécies. O Cemave funciona em João Pessoa (PB) e faz, entre outras ações, a coordenação do anilhamento de aves silvestres.

Sobre as distâncias percorridas, não há novidades, pois a movimentação dessa espécie pela região Nordeste já é bem conhecida do Cemave. Mas o anilhamento já havia desmistificado a idéia de que essa ave é oriunda do continente africano. Após a marcação de milhares de indivíduos, foi possível entender suas rotas migratórias e a movimentação cíclica que ela realiza acompanhando o ritmo das chuvas na região semi-árida.

A ave encontrada foi anilhada ainda jovem por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura de Mossoró (Esam). O fato poderia ser apenas parte da rotina do Cemave, que há trinta anos coordena o uso de anilhas e a distribuição destes anéis entre pesquisadores e instituições de ensino e pesquisas no Brasil, mas o caso assumiu importância porque a espécie é alvo permanente de caça e vive numa das regiões onde as alterações climáticas são constantes.

A arribaçã, uma autentica viajante da caatinga, vive no limiar de sua existência sob fogo cruzado de centenas de caçadores que praticam, pelo menos, três modalidades de caça, a esportiva, em que os praticantes apenas se divertem ao abaterem as suas presas; a comercial, que abastece uma rede de consumo com ramificações que se estendem pelas feiras dos grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro; e a caça de subsistência, que é utilizada para saciar a fome de sertanejos pobres, principalmente nos longos períodos de estiagem.

Até então, acreditava-se que esta espécie poderia ter uma vida de até 15 anos, tendo sido este o mais longo registro já conhecido. A nova informação, obtida com a localização da arribação anilhada há 24 anos, traz para os pesquisadores a certeza de que a conservação e o monitoramento da avoante é uma das peças fundamentais para o conhecimento das dinâmicas de aves com potencial cinegético.

A arribaçã-vovó, localizada na Paraíba, conseguiu superar as adversidades do ambiente semi-árido, as intempéries climáticas, a pressão de uso e tempo de vida. A ave, cuja circulação se concentra no polígono das secas, deve ter procriado inúmeras vezes. Esse fato demonstra a necessidade de se ter um amplo programa de monitoramento e manejo da arribaçã, espécie que cantada em verso e prosa na literatura regional.

Fonte: Instituto Chico Mendes