Editoria: Vininha F. Carvalho 05/08/2005
Os amantes da natureza têm, a partir desse mês, um motivo especial para comemorar, as baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae) começam a chegar ao litoral baiano. Entre os meses de julho e novembro, elas saem da Antártica, onde se alimentam, e vêm para as águas quentes e tranqüilas da Bahia. Anualmente, cerca de três mil baleias migram para essa região, local preferido por estes mamíferos marinhos para se reproduzir e amamentar os filhotes.
O Projeto Baleia Jubarte, que deu origem ao Instituto Baleia Jubarte, é responsável pela proteção da espécie no Brasil há 17 anos, em parceria com o Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
Para 2005, o instituto, que é patrocinado pela Petrobrás, enfrenta dois novos desafios - implantar o turismo de observação de baleias nas cidades de Salvador e Itacaré e dar continuidade ao já bem sucedido monitoramento desenvolvido na Praia do Forte, litoral norte e em Prado e Caravelas, no extremo sul.
Na temporada de 2004, com a atividade do turismo de observação de baleias e pesquisa, técnicos do IBJ avistaram 1.326 baleias. Destas, 796 foram observadas no Banco de Abrolhos, no extremo sul do Estado, e 530 na Praia do Forte.
O aumento expressivo do número de baleias avistadas no litoral norte da Bahia permitiu ao Instituto Baleia Jubarte, em parceria com empresas de turismo da região, introduzir o turismo de observação de baleias, também conhecido por whalewatching.
O instituto informa que o turismo de observação é uma das atividades ecoturísticas que mais cresce no mundo, por permitir aos turistas o contato com os animais em seu habitat natural. Os pesquisadores do instituto aproveitam os cruzeiros do turismo de observação de baleias para colher dados científicos, observar o comportamento das jubarte e sua interação com as embarcações.
Segundo a diretora do Instituto Baleia Jubarte, Márcia Engel, essa modalidade de ecoturismo é praticada em quase 90 países e movimenta cerca de US$ 1 bilhão de dólares em todo o mundo. Segundo Márcia Engel, o uso não letal dos cetáceos pode trazer benefícios econômicos a comunidades locais e propiciar pesquisas científicas.
“Além de representar uma importante ferramenta de conservação de diversas espécies de golfinhos e baleias em todo o mundo, agrega valor econômico diretamente à sua proteção”, destacou.
O coordenador Regional da Base do IBJ em Praia do Forte, Enrico Marcovaldi, informou que, em 2004, cerca de 1.300 turistas participaram de 48 cruzeiros que saíram da Praia do Forte, e foram realizados pela operadora oficial da região, a Centrotour. No período foram avistadas 230 baleias.
“Na época da caça às baleias, a concentração de renda ficava nas mãos de poucos. Com o whalewatching, os benefícios econômicos vão para uma extensa parte das comunidades locais nas regiões onde são realizados. Operadores turísticos, hotéis, restaurantes, lojas de artesanato, se beneficiam do fluxo de turistas, cujo retorno é socialmente mais justo do que se as baleias fossem mortas”, ressaltou.
De acordo com artigo do Dr. Mark Orams, da Massey University, uma baleia jubarte viva, que durante 50 anos pode ser vista e apreciada por turistas do mundo todo, vale cerca de U$ 1 milhão de dólares, enquanto os produtos de uma baleia abatida custam cerca de U$ 250 mil dólares nos mercados japoneses.
Além de trazer benefícios econômicos para as comunidades locais, o uso não letal dos cetáceos proporciona a coleta de dados científicos, o desenvolvimento de campanhas de educação ambiental e a conservação dos ambientes marinhos.
Os passeios são comprados diretamente nas operadoras e o Instituto Baleia Jubarte fica responsável pelo apoio técnico, com a realização de palestras e orientação aos visitantes, antes do embarque.
Os turistas recebem também informações sobre as normas de avistagem e segurança, estabelecidas pela portaria 117/96 do Ibama, alterada pela portaria 24/2002.
Caça indiscriminada :
Conhecidas pelo temperamento dócil, as baleias jubarte eram alvos fáceis da caça indiscriminada. Na época da pesca artesanal, milhares de baleias foram mortas no litoral da Bahia. Na “armação”, nome dado às instalações onde as baleias eram esquartejadas , eram retiradas a gordura e a carne.
Da gordura se extraía o óleo, que era usado para iluminação de cidades brasileiras e da Europa, e também matéria prima para a argamassa, utilizada nas construções das cidades.
Antes da caça, a população mundial de baleias jubarte totalizava cerca de 300 mil. Hoje estima-se que restam aproximadamente 35 mil indivíduos.
Em 1966, a CIB - Comissão Internacional da Baleia proibiu a caça de baleias jubarte, e em 1986, passou a vigorar uma moratória mundial da caça comercial de baleias. Atualmente, apenas Japão, Noruega e a Islândia violam a proibição.
O Brasil aderiu à medida proibitiva em 1985, e desde 1987, há uma lei federal que proíbe a caça de baleias em território nacional. O Brasil é hoje um dos mais importantes defensores destes mamíferos marinhos no cenário internacional.
Além disso, a baleia jubarte consta da lista do Ibama de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção e do apêndice I da CITES - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Flora e Fauna Selvagens, além de constar na categoria vulnerável da IUCN (World Conservation Union).
“Nos últimos cinco anos, o número de avistagens da espécie aumentou, demonstrando a recuperação do local, como conseqüência da proibição da caça e do sucesso dos trabalhos de conservação do Instituto Baleia Jubarte”, comemora Marcovaldi.
Baleia cantora - Também chamada por baleia corcunda ou preta, a baleia jubarte é conhecida por seu temperamento dócil e suas acrobacias. Por ser encontrada em todos os oceanos, é considerada uma espécie cosmopolita. São animais migratórios - todos os anos se deslocam das áreas de alimentação (se alimentam de krill, um minúsculo tipo de crustáceo) em altas latitudes para as áreas de reprodução nos trópicos.
Quando adultas podem atingir até 16 metros, e pesar 40 toneladas. São facilmente identificadas pelas grandes nadadeiras peitorais, que podem chegar a um terço do seu comprimento total.
O canto da jubarte é utilizado para identificar indivíduos ou caracterizar e diferenciar cada população de jubarte. Os machos cantam para atrair as fêmeas ou afastar outros machos, e entre dois e cinco anos de idade, atingem a maturidade sexual.
A gestação das baleias jubarte dura de 11 a 12 meses e o filhote permanecerá sendo amamentado até quase um ano, quando inicia o desmame e se torna independente.
O filhote, que já nasce com cerca de três metros de comprimento, pode pesar até três toneladas e mama aproximadamente 200 litros de leite por dia.
Elas possuem o dorso de coloração preta e a parte ventral variando de negra a branca. E a presença de manchas brancas na face ventral da nadadeira caudal, é que permite identificá-las por fotogramas. É como uma impressão digital.
Normas para avistagem:
Para evitar que as baleias sejam molestadas durante seu período reprodutivo, o Ibama baixou a portaria 117/96, alterada pela portaria 117/2002, que estabelece normas para a observação dos mamíferos marinhos em águas brasileiras. As principais recomendações são:
- Não aproximar as embarcações de qualquer espécie de baleia, com o motor engrenado. Os barcos devem ficar a 100 metros de distância do animal e desligar o motor se o animal se aproximar voluntariamente.
- Não seguir qualquer baleia por mais de 30 minutos, com o motor ligado, ainda que respeitadas as distâncias.
- Não interromper, tentar alterar ou dirigir o curso do deslocamento de cetáceos (baleias e golfinhos) de qualquer espécie.
- Não dividir ou dispersar grupos nem produzir ruídos excessivos a menos de 300 metros do animal.
- Não despejar qualquer tipo de detrito no mar.
- Evitar aproximação caso outra embarcação esteja próxima do grupo ou indivíduo em observação.
- Não mergulhar ou nadar junto das baleias.